Só um garoto perdido.

     Caminho minha sina, meu destino e meus pensamentos, estes tão conturbados e poluídos em meio aos anseios que o cotidiano me empurra goela a baixo. GOSTE, TENHA, SEJA, VIVA. Viver?! Viver uma vida não completa ideologicamente, arrastada pra cima e pra baixo na infinidade dos exemplos de “sucesso” pré definidos por marqueteiros e dos conselhos práticos que da sabedoria passaram distantes. Não se pode viver isso. Se sobrevive a isso.
     Paixões arrebatam, enchem de ânimo e consomem de acordo com a conveniência, “Eu te amo” se tornou uma frase pesada para se dizer, o amor foi substituído pelo desejo de satisfazer nossas vontades que a cada dia são mais momentâneas. O Amor está sendo trocado, deixado pra lá, para os outros, para os poucos que como eu sentem falta e a cada dia resistem. Não se vê mais a beleza, vejo uma parte de tudo o que é belo confinado numa esquife de diamantes e o resto de tudo que é belo jogado num barranco. Se eu já não fosse louco o suficiente, diria que estou ficando, porque tudo isso não faz nenhum sentido para mim, basta se afastar, mesmo em pensamentos, só um pouquinho e qualquer um pode ver do que estou falando.
     Qualquer caminho escolhido parece levar para os mesmos lugares, só muda a cara, o nome, a linguagem mas o conteúdo e a essência é a mesma. Eu mal sei para onde vou, não porque sou incapaz de escolher meu caminho mas o caminho parece estar mais louco do que eu, me induzindo freneticamente a manter meu conformismo e seguir com o fluxo. E no meio de tanta loucura sou inibido a não refletir, não pensar, meditar então é quase um pecado capital, afinal com tanta gente pensando, e entregando uma ideologia prontinha, pra que perder o nosso precioso tempo com isso?
     Sou mais um dos muitos perdidos, que se sentem sozinhos, mesmo dentro de metrópoles super populadas, onde o superficial é valorizado e a verdadeira intimidade é jogada no lixo. Todo o caminho percorrido está mais louco que eu, mais moralmente desnorteado e embriagado em euforia. Nessa selva de sanidade duvidosa eu até que fico orgulhoso de ser só um garoto perdido.